Quais os próximos passos da Gestão Ambiental Empresarial? Descubra agora

A mudança dos paradigmas de gestão ambiental
 

A Gestão Ambiental Empresarial hoje apresenta um controle muito maior que havia há anos atrás. Porém, para onde estamos indo? E por quê? O que motiva essa mudança de paradigma? Veja neste post um pouco sobre a mudança dos paradigmas de gestão ambiental empresarial ao longo do tempo.

 

Paradigma inicial (“lá fora”)
 

Neste paradigma inicial, muito comum até os anos 70, a preocupação com a questão ambiental vinha somente depois de ocorrido algum desastre ambiental, com tecnologias de remediação. A ideologia deste paradigma baseia-se em jogar o ‘problema’ o mais longe possível do local de origem, e caso isso gere algum problema, aí se deve corrigi-lo.

 

 

Paradigma 1 ⇒ Fim-de-tubo (“antes de chegar lá fora”)
 

Com o aumento da população mundial, os problemas ambientais começaram a ficar mais evidentes, e aquele paradigma inicial não era mais sustentável. Isso pressionou governos a criar leis e regulamentações para resolver estes problemas, provocando o surgimento de tecnologias fim-de-tubo. Essas tecnologias são aplicadas aos resíduos de uma organização, para evitar que estes causem grandes impactos ambientais. Desta forma, a ideologia deste paradigma é minimizar os impactos ambientais que as perdas de um sistema produtivo (efluentes líquidos, resíduos sólidos e emissões atmosféricas) podem causar no meio ambiente. Em muitos casos a tecnologia empregada é bastante sofisticada e efetiva, mas como o próprio nome diz, a preocupação começa somente após a geração destes resíduos.

 

 

Paradigma 2 ⇒ Prevenção da Poluição (“aqui dentro”)
 

Como o tratamento de alguns resíduos começou a ficar muito caro, iniciou-se a busca por ações anteriores a geração destes resíduos, surgindo aí um novo paradigma, o da prevenção da poluição. Neste paradigma, a questão ambiental não era mais vista apenas na saída dos sistemas produtivos, mas em toda a organização. Assim, foram sendo desenvolvidas ferramentas para buscar minimizar a geração de resíduos, como a Produção Mais Limpa (P+L). Organizações começaram a implantar Sistemas de Gestão Ambiental (SGA), controlando a geração de resíduos em toda a organização e buscando maneiras para minimizá-los. Porém, este paradigma ainda se restringe aos limites de uma organização.

 

 

Ao contrário do paradigma 1, que se sustenta em políticas de comando e controle, o paradigma 2 é sustentando principalmente pelas vantagens econômicas que um SGA pode trazer a uma organização. A diminuição da geração de um resíduo, através de técnicas de produção mais limpa, pode gerar menores custos de tratamento. As empresas que estão neste paradigma já começam a ver um diferencial competitivo em relação às empresas nos paradigmas anteriores, através do aumento da consciência ambiental na sociedade.

 

Paradigma 3 ⇒ Ecologia Industrial (“pensamento no ciclo de vida dos produtos”)
 

Um novo paradigma está surgindo, que pode ser chamado de Ecologia Industrial. Este nome é devido à associação com a Ecologia, onde os processos naturais não são vistos de forma linear, mas sim como ciclos fechados (por exemplo, as cadeias alimentares). Desta forma, este paradigma ultrapassa as fronteiras das organizações, e passa a criar uma interação entre estas. Um resíduo de uma organização, que apresenta custos de tratamento, pode ser visto como uma valiosa matéria-prima para outra organização, criando redes de fluxos de matéria e energia entre estas, e assim diminuindo os impactos de extração de matérias-primas e lançamento de resíduos ao meio ambiente.

 

 

Além disso, as organizações estão começando a focar nas suas cadeias produtivas, olhando para seus produtos, e os impactos ambientais que estes causam fora dos limites da organização (por exemplo, na fase de uso de uma impressora). Este paradigma gerou a criação de diversas ferramentas, como o Ecodesign (ou Projeto para o Meio Ambiente – Design for Environment), onde os produtos são criados pensando em minimizar os impactos ambientais não somente na etapa de produção (como feito num paradigma 2), mas também em outras etapas do seu ciclo de vida. Um exemplo disso é projetar para desmontagem, que facilita a reciclagem dos produtos.

Outra ferramenta que surgiu deste novo paradigma é a Ecoinovação, que reestrutura a estratégia de negócios das organizações, buscando criar ganhos ambientais e econômicos, através de redução dos impactos ambientais, aumento de resiliência às pressões ambientais ou ao promover um uso mais eficiente dos recursos naturais. Além destas ferramentas, há também a Análise do Ciclo de Vida (ACV), que faz a avaliação ambiental de um produto ao longo de todo o seu ciclo de vida. A ACV permite apontar onde ocorrem os maiores impactos ambientais de um produto, podendo assim ser usada como suporte ao Ecodesign. Assim como no paradigma 2, o paradigma 3 é sustentado principalmente por políticas de autorregulação e instrumentos econômicos. Um perfil de consumidor mais ambientalmente consciente e vantagens econômicas que fazem com que resíduos de uma organização possam ser vendidos (ou deixar de causar custos), promovem o avanço a este paradigma.

 

Os próximos passos da gestão ambiental
 

A evolução ao longo dos paradigmas não excluiu os paradigmas anteriores. Uma organização situada no paradigma 2 busca a prevenção da poluição, mas ainda faz uso de técnicas fim-de-tubo, quando necessário. Da mesma maneira, organizações dentro do paradigma 3 ainda buscam a prevenção da poluição dentro de sua organização e ainda se utilizam de técnicas fim-de-tubo e de técnicas de remediação (quando necessário).

É difícil colocar uma real evolução temporal nestes paradigmas, pois esta mudança não depende somente do tempo, e sim de outras duas variáveis: Espaço e Setor Industrial. Apesar de estarmos num mundo globalizado, a mudança de paradigma em uma organização depende da época em que está, de onde está localizada e em qual setor industrial ela pertence. Enquanto países europeus já possuem organizações dentro dos paradigmas 2 e 3 na maioria dos seus setores industriais, outros países ainda observam a transformação do paradigma inicial para tecnologias fim de tubo! No caso do Brasil, essa mudança depende muito da região em que a organização está situada, mas também (e principalmente) do setor industrial em que ela se encontra. Alguns setores industriais no Brasil, como o de cosméticos, já se encontram no paradigma 3, porém outros setores industriais ainda estão no paradigma 1.

Consumidores brasileiros estão cada vez mais conscientes e preocupados com a questão ambiental. De acordo com uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em 2012, 94% da população brasileira está preocupada com o meio ambiente e 52% está disposta a pagar mais por um produto cuja produção seja ambientalmente correta. A mudança de paradigmas está diretamente relacionada a esse perfil do consumidor, e o que veremos no Brasil nos próximos anos é cada vez mais a evolução dos paradigmas dentro das organizações, principalmente da Prevenção da Poluição para a Ecologia Industrial.

Organizações que são pioneiras às mudanças de paradigmas em Gestão Ambiental Empresarial se destacam no mercado. Anos atrás, estas empresas eram as que conseguiam certificações ISO 14001. Hoje, as organizações que se destacam são as que, por exemplo, realizam a ACV de seus produtos. Como estratégia comercial, é importante que as organizações saiam na frente nas novas tendências. E como está a sua empresa nesse cenário?

 

Até a próxima!