Índices de sustentabilidade empresarial são ferramentas de estímulo para a responsabilidade ética das corporações e servem como ponto de referência para os investidores avaliarem a confiança e o potencial de geração de valor à longo prazo dessas empresas. O primeiro deles foi o Dow Jones Sustainability Index, lançado em 1999. Ao contrário do que muitos imaginam, de que investidores não estão preocupados com sustentabilidade o ISE da B3 (fusão da BM&FBovespa e Cetip) surgiu em 2005 de uma demanda do mercado a partir de investidores que queriam ter uma referência de confiabilidade das empresas em questões não-financeiras. Para se ter uma ideia de relevância e pioneirismo desse índice, quando lançado, o ISE era apenas o 4º índice de sustentabilidade no mundo.
Mas o que é o ISE?
O ISE da B3 é um indicador do desempenho de uma carteira teórica de ações negociadas na bolsa de valores de São Paulo. A carteira do ISE é composta por papéis de empresas que se diferenciam por possuírem uma estratégia alinhada às premissas de sustentabilidade, ou seja, que integram políticas e práticas ambientais, sociais e de governança corporativa (ESG) na estratégia da empresa.
Como funciona?
As empresas têm que estar listadas entre as 200 com ações mais líquidas na B3. A participação das empresas no índice é voluntária. Entretanto, quem concorda em fazer parte, precisa responder um questionário que tem 7 dimensões construído com base em temas considerados relevantes para a sustentabilidade empresarial. O questionário é auto declaratório, porém a empresa precisa mandar evidencias que comprovem as respostas. Não é tudo que precisa ser comprovado, ou seja, é realizada de forma amostral quais das auto declarações da empresa documentos comprobatórios precisam ser apresentados. Além dos documentos e do questionário, é realizado um monitoramento na imprensa de notícias relacionadas as empresas que compõem o ISE. Esse monitoramento serve para verificar se a empresa possui alguma notícia relacionada com alguma crise ambiental ou de governança corporativa. Como, por exemplo, é o caso da Vale atualmente com o desastre em Brumadinho-MG.
Por que as empresas se interessam em sustentabilidade empresarial?
Está muito relacionada a imagem da organização perante à sociedade. Por que isso? Porque a imagem da empresa se reflete em valor, e o que o acionista busca é valor. Além disso, estratégias voltadas para sustentabilidade gerenciam riscos do negócio, representam vantagem competitiva, otimização de custos e abrem a possibilidade do desenvolvimento de novos produtos e de abertura em novos mercados.
E os investidores estão atentos a isso, em pesquisa realizada pela EY em 2018, 97% dos investidores entrevistados afirmaram que conduzem uma avaliação das informações das empresas nas quais pretendem investir com relação às práticas de ESG, sendo que 96% colocam que tais informações desempenham ou podem desempenhar papel chave na tomada de decisão para investimento.
Analisando o desempenho dos índices da bolsa, o ISE é um dos com menor volatilidade da B3, deste modo essa carteira apresenta menores riscos ao investidor, pois entende-se que à medida que a nossa sociedade evolui para padrões de produção e consumo mais sustentáveis, somente empresas atentas as transformações nos atuais modelos de negócio (p. ex., de uma economia linear para uma economia circular) tendem a prosperar e atingir melhores resultados financeiros. Tal transição não é fácil, e demanda das corporações e seus líderes resiliência e habilidade para, muitas vezes realizar uma ruptura no seu modelo de negócio. Gerenciar riscos sociais, de ofertas de matéria-prima e de como as mudanças climáticas e os impactos na biodiversidade podem afetar a rentabilidade do seu negócio, faz parte dessa habilidade para liderar a transição de uma empresa para geração de valor à longo prazo.
Nos últimos 12 meses, com que frequência o desempenho de uma empresa em ESG teve um papel chave na sua decisão em investir?
O nível de interesse dos investidores reflete também no valor dessas empresas, no final de 2018 as empresas dentro da carteira do ISE, representam um valor de mercado de R$ 1,73 trilhões, sendo 48,7% valor total das ações negociadas pela B3. Muito embora, essa representatividade tenha caído com a exclusão da Vale, ainda assim o ISE representa uma parte significativa dos valores da B3.
Embora os valores de mercado do ISE sejam variáveis, e, nem sempre seja fácil de identificar um resultado tangível pela complexidade das variáveis que podem afetar um resultado positivo ou negativo de uma empresa na bolsa, existe uma percepção do mercado que estas empresas estão menos sujeitas a riscos, e, deste modo são menos voláteis.
E onde a ACV se encaixa nisso?
O uso da ACV como ferramenta tem aumentado o seu espaço a cada revisão do questionário do ISE, seja citada de forma direta, ou indiretamente, como por exemplo, quando se espera que a empresa tenha uma percepção dos seus impactos considerando todo o ciclo de vida dos seus produtos. Pensando nisso, nós elaboramos a figura abaixo para que você consiga identificar em quais itens um projeto de ACV pode auxiliar a aumentar a sua pontuação no ISE.
No final do dia, se pararmos para analisar, a bolsa de valores é um mercado que oferece transparência. De modo similar, a ACV é uma ferramenta de gestão que possibilita transparência dos impactos ambientais de um produto na sua cadeia de valor.